Tempo de Consolidar
Segundo a base de dados do sistema Quantum, temos 798 empresas de gestão de recursos. Destas, as empresas com patrimônio sob gestão em ativos líquidos, temos 584 empresas. Refinando ainda mais a nossa pesquisa, para evitarmos dupla contagem de patrimônio em estruturas do tipo master-feeder, fomos buscar os dados filtrados da Anbima.
Segundo a entidade de classe, temos 535 gestoras com um patrimônio de R$ 2,86 trilhões. O que dá uma saudável média de R$ 5,3 bilhões por empresa. O problema da média é justamente este, o sujeito está com a cabeça congelando no freezer e o pé queimando no forno, mas na média está em uma agradável temperatura amena. Na indústria de gestão de recursos nada é mais enganador do que a média.
As 10 maiores gestoras, respondem por R$ 2,1 trilhões do total. Isso mesmo, nem 2% das gestoras respondem por pouco mais de 73% dos ativos sob gestão. O que faz muito sentido, se você olhar mais a fundo e ver que das 10 maiores, temos 7 pertencendo a grandes bancos de varejo e as 3 restantes pertencem a grandes bancos de atacado.
Um exercício interessante é tentar estimar qual seria o patrimônio sob gestão mínimo, para que uma gestora conseguisse honrar os seus compromissos e remunerar minimamente o custo de oportunidade de seus executivos seniores. Partindo de uma estrutura mínima com uma sala de 100 metros quadrados, 1 terminal bloomberg, 1 sócio responsável pela gestão, 1 sócio responsável pelo risco e ‘compliance’, 2 analistas não tão seniores e um funcionário administrativo chegamos em um custo anual por volta de R$ 1,2 milhão. Assumindo que esta mesma gestora pratique uma taxa média de gestão de 1,75% (entre fundos abertos exclusivos) e que remunere a sua distribuição externa com 30% da taxa de administração, temos uma receita liquida da ordem de 1,2% ao ano. Com isso chegamos em um número de um patrimônio de R$ 100 milhões para fazer jus a essa custo estimado de R$ 1,2 milhão por ano.
Estressando um pouco os números (basicamente deixando os sócios com zero de remuneração), chegamos a um patrimônio mínimo de R$ 50 milhões para a empresa rodar ‘no osso’. Abaixo disso já temos uma estrutura bem aquém do que seria o mínimo desejável.
Antes de vermos como esses patrimônios ‘de corte’ se encaixam na indústria, cabe ressaltar que a figura do sócio responsável pelo risco e ‘compliance’ é nova, tendo sido introduzida pela Instrução CVM 558. Cada vez mais o regulador adiciona exigências adicionais em termos de estrutura e custos, o que naturalmente eleva a ‘barra’ para os gestores. Essa tendência não tende a se reduzir, e sim a aumentar, em nossa visão. Novas regulamentações devem ser anunciadas visando maior transparência, maiores controles internos.
Voltando ao ranking da indústria, aprendemos que 187 gestoras tem um patrimônio menor do que R$ 50 milhões sob gestão, e nada menos do que 250 gestoras fazem a gestão de menos de R$ 100 milhões. Esse grupo, que representa pouco menos da metade do total, apresenta um patrimônio de pouco menos de R$ 8 bilhões, dando um médio de R$ 32 milhões por empresa.
Claramente é uma indústria que necessita passar por um processo de consolidação. O nome do jogo é escala. Afinal uma equipe de gestão em renda variável, por exemplo, de 5 pessoas, consegue gerir R$ 100 milhões ou R$ 300 milhões sem praticamente adicionar nenhum custo extra com isso.
Em nossa função de alocadores, estudamos e interagimos com uma parte significativa desses gestores. A nossa visão é que nem sempre há uma visão empresarial por parte das gestoras, são excelentes executivos, oriundos de bancos ou gestoras maiores, que creem que um banquinho e um violão são suficientes para um grande show. Nem sempre. Alias, quase nunca.
Parece meio básico, mas notamos a falta dos 4 P´s do marketing em boa parte dessas empresas. Produto, nem sempre tem uma grade de produtos coerente ou produtos em que notemos uma diferenciação em relação à indústria. O preço costuma ser padronizado no mercado e a percepção é que na média é caro para os resultados entregues pela média no mercado. Claro que temos exceções, mas são pontos fora da curva. Promoção, outro item onde vemos bem pouca ação. Ponto (distribuição, no caso) é outro pilar frequentemente renegado por muitos gestores, quando não se tem uma rede de varejo o uso de acordos e de canais digitais é fundamental para distribuir o seu produto. Além de uma boa equipe de gestão, uma gestora demanda sempre um executivo de primeira cuidando desses pilares.
Com isso, nos parece inevitável (e saudável) que a indústria de gestão de recursos caminhe para uma consolidação com compras e fusões entre empresas. Exemplos recentes não faltam, como a absorção da Corttex pela Mauá, a compra da MPV pela Bozano e a absorção da Sunset pela Guepardo. Somente esse processo, darwiniano, irá prover o país com uma indústria de gestão de recursos cada vez mais forte e capacitada.