Taxa elevada pode inviabilizar ganho
Por Roseli Loturco | Para o Valor, de São Paulo
Muitas são as críticas que se faz à gestão dos fundos de previdência. A mais contundente gira em torno da cobrança de altas taxas de administração e de carregamento que roubam parte importante da rentabilidade do investidor. Estudo da TAG Investimentos deixa claro que taxas elevadas aliadas a má gestão podem deixar o investidor no vácuo, ou sem ganhos reais sobre os recursos que investiu. A pesquisa mostra que alguns fundos chegam a cobrar 5% de taxa de administração na modalidade renda fixa, o que é considerado inadmissível por muitos especialistas.
“No caso da renda fixa, a taxa de administração acaba sendo muito relevante e não deve ser elevada. Já em produtos moderados e agressivos, o que pesa mais é a agilidade do gestor”, diz André Leite, sócio da TAG e responsável pelo levantamento. No que tange à taxa de carregamento, economistas dizem que não faz o menor sentido serem cobradas nem na entrada nem na saída do recurso. E em relação à taxa de administração, pagar mais do que 0,7% ao ano em um fundo de renda fixa prejudica muito o ganho da aplicação. “O investidor fica em uma situação melhor se investir por conta própria. Ainda que pague alíquota maior de Imposto de Renda”, afirma Samy Dana, professor de economia e finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Um dos pontos mais relevantes do estudo mostra a falta de empenho do gestor quando o fundo não consegue nem ao menos atingir a mesma rentabilidade do CDI, que acompanha a taxa básica de juros, a Selic, e é considerado benchmark (referência) deste mercado. É certo que com a taxa básica estacionada nos 14,25% até setembro deste ano, rentabilizar os fundos de previdência mais conservadores e de curto prazo era tido como tarefa fácil. O problema é que nem isso eles estão entregando.
A pesquisa analisou um universo de 1.008 fundos de previdência (exclusivos ou não) separados em quatro categorias: renda fixa, com volatilidade de até 0,75%, conservador, com volatilidade entre 0,76% e 1,50%, moderado, com volatilidade entre 1,51% e 2,70%, e agressivo, com volatilidade acima de 2.70%. E observou o desempenho dos fundos até setembro de 2016.
Na renda fixa, apenas 68 de 375 fundos bateram o CDI em 12 meses. Em 48 meses, 9 de 210 superam o CDI. Na modalidade considerada mais conservadora, 88 de 139 fundos ficaram acima do CDI em 12 meses. E em 48 meses, somente 1 de 64. Indo para a ala dos fundos moderados, 68 de 87 bateram o CDI em 12 meses. Em 48 meses, 4 de 45. A categoria agressiva foi a que obteve melhor resultado no curto prazo. Mas o mesmo não se repetiu em período mais longo. Nos fundos agressivos, 355 de 407 bateram o CDI em 12 meses. Em 48 meses, apenas 3 de 286 tiveram este desempenho.
“Também passamos uma régua em janelas superiores a 48 meses, já que o caráter da previdência é de investimentos mais longos. Neste cenário, o resultado foi ainda mais desolador”, indica Leite. Dos fundos que existem de 48 meses ou mais (587 fundos), apenas 17 performaram além do CDI. “Pouco menos do que 3% dos fundos (2,90%) conseguiram bater o CDI em um horizonte de tempo um pouco mais longo”, diz o sócio da TAG, que possui R$ 3,4 bilhões de patrimônio líquido sob gestão, sendo R$ 950 milhões em fundos de previdência.
Três pontos são fundamentais para que este cenário mude daqui, avalia Leite. Primeiro, os bancos precisam ser mais ativos na gestão de seus fundos e, conforme o cenário econômico e político, revejam suas posições. “A gestão ativa é uma tendência. E os bancos ainda não perceberam isso”, diz Leite. Segundo, a diminuição das taxas cobradas para que não roubem parte dos ganhos do investidor. E por fim, a educação financeira. “O cliente da previdência tem que entender que volatilidade não é problema. Para que atinja uma rentabilidade melhor tem que considerar as NTN-Bs mais longas”, afirma.
Hoje, com taxa de juro a 13,75% e perspectiva de queda e estimativa da inflação convergindo para o centro da meta em 2017, a TAG vê oportunidade de ganhos reais nos fundos de previdência de renda fixa. “Nos próximos 12 meses, com o juro nominal projetado de 12 %, e o juro real de 7%, a melhor alocação hoje são ativos prefixados atrelados à inflação”.
Apesar das conclusões pessimistas do estudo, a indústria da previdência continua crescendo. Segundo o último boletim da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), de janeiro a novembro, a captação líquida dessa classe de ativos foi de R$ 38 bilhões, recorde pelo segundo ano consecutivo.
O estudo reconhece e destaca as características benéficas dos produtos de previdência como: diferimento no pagamento de imposto de renda (IR) em até 12% no uso do PGBL, alíquota regressiva que pode chegar a 10% de imposto a partir do décimo ano de investimento, benefício sucessório sem uso de inventário, escolha de beneficiários e possibilidade de recurso sem pagamento de IR.