BTG Global Managers Conference – Global Trends
São Paulo, 24 de julho de 2020.
Painel com Richard Clode, gestor da Janus Henderson, e Lydia Haueter, gestora da Pictet Asset Mgmt, moderada por Laura Gonzalez, Head de WM da Allfunds. Tema do painel é “Megatrends after Covid-19”.
· Richard Clode sobre os preços hoje no setor de tecnologia. Poderia essa ser uma nova bolha como em 2000?
o O prêmio sobre o setor para o resto do mercado é de apenas 25%, o que por si só não é algo tão alarmante, quando comparado à média histórica.
o Porém, embaixo das métricas agregadas vemos sim uma “bifurcação”. As 5 ações principais do S&P 500 representam hoje 25% do índice, o que é bem maior que a representatividade das top 5 ações em 2000. Mesmo assim, Clode faz uma ressalva que essas empresas de tecnologia crescem 3x mais rápido, em média, que o restante do S&P, o que pode justificar os preços.
o Há bolsões que o preocupam: empresas que não geram lucros e que usam como mantra “growth at all costs” para justificar a queima de caixa. Cases para se perguntar: Zoom vale $70 bilhões, Tesla vale 50% a mais que a Toyota mesmo com uma fração do output da mesma?
o Não se preocupe tanto com os índices pois esses são “backward-looking”. As top 5 empresas do S&P mudam a cada década. Alia-se a isso o “passive investing craze” – investidores pessoa física entrando na bolsa em ETFs, fazendo com que o preço das ações que compõem esses ativos, e, portanto, os índices, subam pela demanda e injeção de liquidez no mercado.
o Perspectiva otimista: a Lei de Moore e a demografia mundial (através dos “Millenials” e sua fome por gadgets, serviços digitais…) hoje aponta que a democratização da tecnologia só tende a aumentar, os custos a cair, e ela a se desenvolver.
· Lydia Haueter comenta se ainda há espaço para fusões e aquisições no setor de biotecnologia e healthcare(HC).
o Empresas menores de biotech estão bem capitalizadas no momento. Alia-se a isso a abertura recente do bid-ask spread e uma demanda dessas empresas por múltiplos mais esticados em uma eventual transação. Embora haja potencial, ela entende que essas empresas do setor querem trilhar seus próprios caminhos.
o Argumenta que esse M&A estará cada vez mais presente no subsetor de prevenção, ao contrário do subsetor de tratamento, visto que esse tem custos muito mais elevados. Governos também passam a se questionar se não há uma economia social e fiscal maior com maiores gastos em prevenção do que em tratamento.
· Qual a extensão da “disrupção” causada pela pandemia?
o Clode acredita que haverá mudanças estruturais: em home office opcional e definitivo sendo adotado com alguma relevância, na queda no número de viagens a negócio e uma queda nos aluguéis de lajes corporativas nos centros urbanos.
o A notícia boa: “tech is on the right side of most of these permanent shifts”.
· Quais são os prognósticos para uma vacina ainda esse ano?
o Hauert está otimista. Porém sente que não estão se preparando para o próximo gargalo: como será a distribuição dessas doses pelo mundo? Resultados preliminares apontam até para a necessidade de 2 doses para que a vacina surta efeito.
o Alia-se a isso a produção de frascos de vidro, seringas, entre outros itens necessários para a aplicação da vacina. Não sabe se o mundo está preparado nesses quesitos.
o Rejeição a vacina é outro dificultador.
o Há duas vertentes hoje: vacinas produzidas sobre anticorpos sintéticos, que devem ter estudos concluídos primeiros, e outras que atuam na superfície do vírus, nos prevenindo de uma possível infecção.
· A vacina já está precificada no mercado?
o Hauert | Mercados já precificaram a possibilidade de uma vacina nesse ano – valuations de empresas do setor de biotech negociam agressivamente em resposta às notícias científicas.
o Clode | Produção em massa será um problema. Veremos outras ondas menores do vírus e teremos que viver com isso.
· Algum setor está a salvo dessas transformações tecnológicas “disruptivas”?
o Clode acredita que “nem tudo está perdido”. Movimentos vistos na China de consolidação de diferentes indústrias sob uma bandeira, como Tencent ou Alibaba, não será replicado nos países ocidentais, onde políticos e governos restringem as formações desses monopólios e por isso limitam essas “disrupções”.
· Ambos não veem as tendências de aquisições do início da década, como a compra do Instagram pelo Facebook, continuando. A compra da Fitbit pelo Google, por exemplo, continua travada. Governos ocidentais estão muito mais céticos quando aos benefícios do poder centralizado e consolidado das empresas de tecnologia; enquanto os chineses permitem.
· Qual o impacto potencial das eleições americanas em setores como tech, biotech e HC?
o Hauert | Apenas haverá algum impacto se ambos o presidente e o congresso virem a ser “Democratas”, o que parece provável hoje. Haverá então uma extensão das políticas do Obama, como o Obama Care. Ela argumenta que o setor de HC é muito caro nos EUA – pessoas pagam alto do próprio bolso para um serviço que não lhes serve bem.
o Clode |Pouco impacto no setor de tecnologia em qualquer caso. Caso Biden seja eleito, ele deve aumentar o imposto corporativo e fechar algumas brechas pelas quais companhias geravam lucros no exterior. Mas temas centrais, como a guerra comercial, ou regulamentação das big techs, não devem ser deixados de lado. Portanto, não enxerga diferença considerável.
Área de Gestão TAG Investimentos