BTG Global Managers Conference – Global Markets
São Paulo, 23 de julho de 2020.
Painel com Barnaby Wiener, gestor da MFS, e Reinout Schapers, gestor da Robeco, moderado por Renato Mimica, CIO da Exame. Tema do painel é “Finding Value in Global Markets”.
· Schapers divide suas perspectivas sobre o cenário.
o Alusão ao TINA (“There Is No Alternative”) ao comentar sobre os preços nas bolsas mundo afora – a “alternativa” na Europa seria investimentos em juros negativos, o que por si só não é uma alternativa.
o Há uma grande diferença entre os setores nessa retomada, e que o crédito corporativo é uma subclasse em si relativamente segura e, portanto, pode apresentar boas oportunidades.
o Tudo é muito incerto e qualquer previsão certeira é um engano – ninguém sabe se a volatilidade persistirá, ou se haverá uma segunda onda de contágio e novos lockdowns, como o visto agora em Hong Kong – mas acredita que há muito dinheiro na mesa para ganhar.
· Como a MFS enxerga a outperformance de growth vs. value?
o Ninguém sabe qual será o impacto de longo prazo nos mercados. O impacto de curto prazo pode até estar precificado, e precificado corretamente, mas pouco se pode estimar do impacto da injeção de liquidez no longo prazo. Isso torna difícil essa análise.
o Acredita que haverá um impacto considerável na confiança das pessoas para a retomada estrutural da economia no médio prazo e que a produção perdida não foi fatorada ainda.
o É importante diferenciar as empresas de “durable growth” das que são apenas “growth”. A primeira tende a apresentar algumas características semelhantes às empresas de “value”.
· Como que a Robeco vê os spreads de crédito YTD vs. a média histórica.
o Mar/20 foi o pior mês que ele já presenciou no mercado de crédito corporativo, aonde o mercado inteiro não “bidou” ativos HY ou IG.
o Mercado dos EUA estava pior que o europeu e EMs estavam piores que os DMs.
o Encontraram oportunidades em companhias com balanços sólidos e bem estruturadas. Teve companhias tão boas quanto MSFT e GOOG emitindo títulos com rendimentos de crédito HY.
o Os spreads fecharam durante abril-junho por causa das medidas dos BCs e os estímulos fiscais.
o Parte do “melt-up” visto no 2T20 pode ser justificado – TINA. Mas, outra parte não – se existem incertezas sobre a longevidade de uma companhia, como a Hertz, os mercados não deveriam ter seguido os movimentos que seguiram nesses papéis.
o Empresas investidas durante esse período têm de ter um balanço financeiro forte para o curto prazo e ter demanda no longo prazo para o seu produto.
· Proteções para a carteira na MFS.
o “Hedge before volatility comes”.
o “Owning a concentrated portfolio of durable goods that won’t surprise you on the downside.”
o “Buy put options on equity indices to hedge against the volatility”.
o Tenha a flexibilidade para reter recursos em caixa e liquidez. Hoje 40% da carteira que gere está em ativos/fundos de liquidez.
o Estratégia deu certo no 1T20 – “flat returns for the period”. Porém, Wiener alerta que as opções não estão mais baratas como antes.
· É tarde demais para se juntar ao rali?
o Níveis continuam atraentes se comparar os spreads de hoje com as performances históricas no longo prazo.
o Porém, há diferenças entre setores.
o Particularmente a Robeco diminuiu sua exposição e realizou lucros a medida que os mercados foram subindo no 2T20. Reduziram o risco e deixaram mais em caixa, pois enxergam maior volatilidade no horizonte.
· Exposição da MFS aos mercados emergentes.
o Tese estrutural da gestora é estar “underweight” em EM. Esse posicionamento não muda a/a.
o A gestora tem uma obsessão por compreender os riscos associados com cada investida, o que mercados emergentes não facilitam – risco político, cambial e econômico difícil de quantificar.
o Aponta que bons negócios em mercados emergentes, que são poucos, apenas negociam a múltiplos muito altos, tornando-os pouco atraentes em termos de cheap valuation.
· Wiener argumenta que ESG deveria ser um componente crítico de qualquer portfólio, especialmente se o investimento é de longo prazo com um horizonte de 7-10 anos. Retornos são superiores em companhias que tem boas avaliações ESG vs. aquelas que não têm, e longo prazo composta isso.
· As intervenções dos BCs mundo afora são apropriadas?
o Schapers | Bancos aprenderam com os erros da crise de 2008 quando demoraram muito para se movimentar; eles atuaram rapidamente dessa vez. Porém, aparentam esquecer que sua função é gerar liquidez e não lucros corporativos. “Feels like they lost a sense of reality”.
o Weiner | Os bancos centrais têm que entender que ninguém consegue controlar a direção dos lucros corporativos no longo prazo, inclusive eles. Os juros negativos fazem com que as pessoas poupem mais, visto que ativos de baixo risco como títulos públicos não rendem, e essa poupança elevada é prejudicial.
· Quais são as implicações no médio prazo na inflação dessa crise?
o “Negative yielding bond is an abomination that corrupts so many aspects of the financial system” – políticas monetárias além de um certo nível não surtem o efeito esperado.
o A inflação vai subir no mundo todo. Porém, a dificuldade está em acertar o timing desse aumento.
o Não existem ativos imunes a inflação e é difícil encontrar ativos que protejam contra a inflação.
· Quais setores Wiener mais está exposto hoje no seu fundo na MFS?
o 8% da carteira está no mercado imobiliário alemão, 8% em bens de consumo, e 20% em tecnologia (software, internet e hardware) embora estejam UW ao benchmark nesse setor.
o Não tem exposição aos bancos e ao setor de energia.
o Gostariam de ter uma maior exposição ao setor de HC, no qual tem uma demanda que cresce mais que GDPs. Porém, há dificuldades com respeito a políticas de precificação, especialmente das companhias de Pharma.
· Schapers enxerga oportunidades no setor de energia, mesmo que os lucros esse ano vão ficar abaixo. Visão de longo prazo para o setor é construtiva, haverá demanda, e esses papéis de crédito deverão dar bons retornos quando a visão clarear e o mercado estabilizar. Indústrias cíclicas, como bens de consumo cíclicos, também estão atraentes.
· Os investidores perderam a noção de valuation quando olhamos as “mega-techs”?
o AMZN e NFLX tem múltiplos bastante elevados. Mas FB e GOOG não – eles têm hoje as maiores receitas de publicidade do mundo, o que é cíclico, mas só tende a aumentar.
o Maior risco para essas empresas são reguladores e políticos querendo interferir e desmembrá-las.
o Esses valuations podem ser explicados pela injeção de capital em fundos passivos/ETFs na última década, o que puxou seus preços para novas altas, em vez de outros motivos.
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