Previdência aberta tem alta nas captações

Por Roseli Loturco | Para o Valor, de São Paulo

Tida como uma das categorias preferidas por quem vai investir no longo prazo, os fundos de previdência complementar avançam a passos largos. No primeiro trimestre, foi a terceira melhor captação líquida de recursos da indústria de fundos no Brasil, com R$ 10 bilhões, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Perderam só para renda fixa e multimercados.

A reforma da Previdência Social, se aprovada, poderá mudar o perfil da aposentadoria no país e tem sido vista como estímulo extra ao avanço da indústria. Mesmo em detrimento da alta volatilidade que os fundos vêm apresentando desde a delação dos donos da JBS.

Até a véspera das denúncias, os fundos de previdência vinham exibindo bons resultados. Os multimercados estavam entregando entre 120% e 130% do CDI. “E a Bolsa também estava dando muito retorno, acima de 10% no trimestre”, diz Francisca Albuquerque C. Brasileiro, sócia e gestora da Tag Investimentos. O problema é que quase todos os ganhos foram ‘ralo abaixo’, de lá para cá, em todas as categorias. Mas um dos que mais sofreram foi a renda fixa. “Uma carteira com 60% de CDI e 40% de NTN-B – IMA-B médio com duration de oito anos -, rendia até o dia 17 cerca de 6% ao ano mais inflação. Agora, devolveu quase tudo e está próxima de 1,5%.”

É bem verdade que esse é um tipo de investimento que desde 2013 vem se acostumando a intensas chacoalhadas. Seja em consequência de mudanças de regras ou de fatos políticos e econômicos inesperados que provocam inversão de indicadores e títulos do mercado, os fundos de previdência, que possuem mais de 93% de ativos atrelados à renda fixa, vivem na gangorra. O que não tem sido suficiente para espantar o investidor.

Mesmo em anos de crise, esse segmento vem avançando aceleradamente e com fôlego cada vez maior. Em 2015, quando a economia encolheu 3,8 %, e em meio às negociações do então ministro da Fazenda Joaquim Levy para que a reforma caminhasse, os planos de previdência engordaram suas reservas em 22%, conforme levantamento da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi). Já em 2016, com a adoção de uma pauta ainda mais agressiva em relação ao tema, a captação líquida de recursos do setor avançou quase 24%. E só nos três primeiros meses de 2017, o resultado líquido da previdência aberta saltou 55,3%, e seu patrimônio superou os R$ 690 bilhões.

Defensor da reforma, o presidente da Bradesco Vida e Previdência, Jorge Pohlmann Nasser, admite que ela cria uma janela de oportunidades e se não for endereçada neste momento, irá gerar dificuldades que levarão o país a ter que pagar um preço mais alto no futuro. “A expectativa é que as pessoas se interessem mais pelo seu planejamento futuro, seja por planejamento sucessória ou vantagem tributária”, avalia Nasser, que fechou 2016 com R$ 163,76 bilhões em patrimônio líquido sob gestão e captação líquida de R$ 8,73 bilhões – somadas as operações de previdência da Kirton (HSBC).

“As pessoas passam a perceber de forma mais evidente de que no longo prazo o Estado tem capacidade limitada de manter os mesmo níveis de benefícios que manteve até hoje”, defende Edson Franco, presidente da Fenaprevi e da Zurich no Brasil.

Apesar da volatilidade dos ativos que compõem esses fundos, a trajetória de queda dos juros deve continuar, na opinião de gestores. “Quando diminuem os juros, outras opções de investimentos em renda variável acabam aparecendo”, avalia Raphael de Carvalho, presidente da MetLife.