26/05/2020 às 05h00

Para onde vamos?

Aumento de posições em ativos de risco devem ser pensados de forma muito cautelosa

Por Dan Kawa | Para o Valor de São Paulo

Warren Buffett é um dos investidores de maior sucesso no mundo e uma de suas frases faz total sentido com o momento que estamos vivendo hoje, com o desencadeamento da crise da covid-19 no mundo. “É claro que o futuro imediato é incerto. A América enfrenta o desconhecido desde 1776. É que algumas vezes as pessoas focam na grande quantidade de incertezas que sempre existe enquanto em outras épocas as pessoas ignoram isso”.

No mês de abril, começamos a receber os dados econômicos de março, quando a pandemia do coronavírus foi iniciada. Como infelizmente era amplamente esperado, o que vimos foi uma rápida deterioração do crescimento econômico global. Os bancos centrais e os governos mantiveram uma postura de dar suporte a nichos do mercado financeiro e a diversos setores da economia. Estes movimentos ajudaram a suavizar a crise, mas certamente não irão impedir uma das mais acentuadas e agudas da história. A despeito da recuperação nos preços dos ativos, que em muito podem diferir do ambiente econômico, as incertezas que rondam o cenário são extremamente elevadas.

A visão a médio prazo que temos é que o mercado precifica alguma recuperação econômica já no terceiro trimestre do ano, na medida em que os países vão de distanciamento social ainda será necessário até que uma vacina seja desenvolvida e produzida em larga escala.

Hoje, temos receio de que a recuperação possa ser um pouco mais lenta do que o antecipado. A China foi o primeiro país a brigar com o vírus e o primeiro a lidar com uma retomada de sua economia. Pela experiência chinesa e com o que estamos observando de tentativa de retomada na Europa, o processo de recuperação econômica será mais lento e gradual do que se imaginava.

A China é um país onde culturalmente a sociedade respeita as regras, existe organização governamental e tecnologia para auxiliar no controle da pandemia. Mesmo assim, vemos uma retomada gradual e um setor de serviços bastante pressionado. Poucos países no Ocidente detêm capacidade de controle da população como a China – aqui não é uma opinião, critica ou elogio, apenas uma constatação.

Enquanto não houver uma vacina contra o coronavírus, o risco de novas ondas de contaminação será elevado e, por isso, a retomada será bastante frágil e incerta. Voltando aos mercados, estes estão sendo sustentados por liquidez, posição técnica saudável, ausência de juros no mundo e afins. Precisamos apenas ficar atentos, caso essa tese de retomada mais gradual de cenário se consolide e os mercados passem a dar um maior peso a isso.

Em geral, optamos por manter alocações balanceadas e estamos priorizando mais caixa, alocando prioritariamente em títulos públicos. Mantemos alocações estruturais, dependendo do perfil de cada cliente, em ações, crédito privado e NTNBs. Com o respiro que o mercado deu em abril, voltamos a buscar proteções de maneira mais ativa via derivativos e opções de Ibovespa ou bolsa dos EUA nos veículos que permitem estes instrumentos. Aumento de posições em ativos de risco estão sendo pensados de forma muito cautelosa e ainda não estamos implementando. Acreditamos que teremos chances de comprar bons ativos a preços bastante atrativos ao longo deste difícil processo de crise.