LCA e LCI tendem a dar espaço a certificados

Por Roseli Loturco

Acostumados à alta exposição em renda fixa, os endinheirados não têm do que reclamar. Com a taxa de juro básica em 14,25% e os títulos públicos e privados pagando IPCA mais 6% ao ano, estava fácil fazer o bolo dos milionários crescer a cada ano. Ainda mais se o investidor escolhesse ter em carteira títulos privados isentos de imposto de renda que chegaram a remunerar o equivalente a 114% do CDI ao ano. E foi nessa base que o patrimônio do público private se distribuiu no ano passado e na primeira metade deste ano.

Em 2015, entre os ativos de renda fixa, os títulos privados responderam por 33,7% dos recursos, superando os valores dos últimos quatro anos, com forte presença das Letras de Crédito Agrícola (LCA) e das Letras de Crédito Imobiliário (LCI), que atingiram 67% do total, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Mas alguns gestores reclamam que, apesar da forte demanda, há maior escassez de lastro para emissão desses títulos este ano. Dizem também que houve uma distorção nos últimos dois anos em relação à emissão e distribuição desses papéis. Isso porque os dois grandes bancos públicos, a Caixa Econômica Federal, com as LCIs, e o Banco do Brasil, com as LCAs, concentravam mais de 60% desse mercado. Foi quando os bancos médios começaram a praticar taxas de remuneração mais altas para serem mais competitivos. O que ficou caro para eles. “Ao longo 2015 e 2016, as taxas foram sendo consertadas. Mas mesmo assim, criou-se essa indústria e o investidor se acostumou com a alta rentabilidade”, diz André Leite, sócio da TAG Investimentos.

A maior restrição de lastro vem provocando mudanças para emissores, distribuidores e investidores. Os bancos médios continuam negociando esses títulos para o público private. Mas estão pagando menos, perto de 94% do CDI. São bancos que têm que destinar recursos ao crédito imobiliário e estão captando na medida que dão crédito ao setor. “O mercado ainda causa distorção, mas menos do que no passado. A liquidez dos papéis, no entanto, fica travada por seis meses a dois anos”, diz Leite, que administra patrimônio de R$ 3,5 bilhões. Desses, LCA e LCI representam R$ 50 milhões, ante R$ 400 milhões de há um ano e meio.

Nessa mesma linha de entendimento, a XP Investimentos vê uma mudança na modalidade de títulos emitidos mesmo dentro do agronegócio e do setor imobiliário. “Acho que vai deixar de ter tanta concentração de LCI a LCA fora dos bancos oficiais. O que vai abrir espaço para os CRIs e CRAs e também para as debêntures incentivadas”, indica Beny Podlubny, head do Private Banking e da Wealth Management da XP Investimentos, com R$ 10 bilhões sob gestão.

As empresas de fato têm recorrido as esses papéis – CRIs, CRA e debêntures incentivadas – como forma de financiamento de longo prazo. “Este ano, as emissões desses papéis chegaram a R$ 11,5 bilhões, segundo Cetip. Até o final de 2016, a expectativa é de outros R$ 8,5 bilhões. O Citi é grande player deste mercado”, afirma Juliana Bonfá, superintende executiva de produtos do Citi Private Bank Brasil. “As emissões estão pagando prêmios altos: 97,5% do CDI, para emissão de 3 anos, o que equivale a mais de 110% do CDI”, calcula.

O fato é que enquanto a Selic estiver em dois dígitos e com a inflação convergindo para o centro da meta, muito gestor acha difícil não considerar títulos que estejam atrelados ao juro oficial da economia. “Nós acabamos de rodar todo modelo de allocation e a taxa de juros ainda é uma boa estratégia. Muito mais do que Bolsa que captou muita valorização. Navegar com 5,8% de juro real é muito poderoso”, considera João Albino Winckelmann, diretor de private banking do Bradesco.