18/02/2021 às 05h01

Ibovespa retoma os 120 mil pontos com Petrobras e Vale

Dinâmica no exterior, com fortalecimento do cenário de reflação, sustenta alta do dólar e juros futuros

Por Lucas Hirata, Felipe Saturnino e Marcelo Osakabe | Para o Valor de São Paulo

Em um momento em que ainda faltam respostas sobre uma possível prorrogação do auxílio emergencial, as atenções nos mercados locais se desviaram para a dinâmica no exterior. O Ibovespa retomou a marca de 120 mil pontos, sustentado mais uma vez pelas ações ligadas ao setor de commodities, diante da perspectiva de retomada da economia americana e estímulos fiscais do governo Joe Biden. Por outro lado, essa dinâmica acende preocupações com a retomada da inflação, o que impulsionou o dólar e os juros futuros.

O dólar comercial fechou em alta de 0,76%, a R$ 5,4147. O avanço contra o real ficou em linha com o da maior parte dos pares emergentes. Na mesma direção, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 subiu de 7,20% a 7,25% na B3.

Na renda variável, o Ibovespa fechou em alta de 0,78%, aos 120.356 pontos, em movimento que se beneficiou, ainda, de um ajuste ao desempenho positivo das bolsas globais na véspera. O giro financeiro foi de R$ 21,92 bilhões, relativamente robusto para um dia de pregão reduzido na volta do feriado de Carnaval. De acordo com analistas, o mercado sofreu um pouco mais instabilidade por causa do vencimento de opções sobre o índice.

O que ditou a dinâmica do mercado foi a perspectiva de fortalecimento da economia dos Estados Unidos em um cenário de nova injeção de recursos. Ontem, os dados de vendas no varejo e produção industrial americanos superaram as expectativas.

“O movimento de ações como Vale, Marfrig, Usiminas e Suzano está muito ligado a uma certa fuga do risco no cenário local e o avanço do dólar especialmente contra o real, o que ajuda os exportadores”, explica Enrico Cozzolino, analista da Daycoval Investimentos.

De fato, os principais ganhos da bolsa vieram ontem de empresas mais ligadas a comércio exterior. Vale ON subiu 2,62%, enquanto Petrobras ON avançou 4,14% e Petrobras PN ganhou 4,04% com nova alta do petróleo no mercado internacional – revertendo as perdas do começo do pregão.

Por outro lado, os dados mais positivos nos Estados Unidos voltaram a dar impulso ao cenário de reflação, ou seja, a recuperação mais forte da atividade e inflação no país, o que obrigaria o Federal Reserve a retirar estímulos antes do previsto.

Para Dan Kawa, diretor de investimentos da TAG, a alta de juros no exterior é um ponto de atenção, mas o mais importante é verificar a velocidade de abertura das taxas. “Se for rápida e acentuada, o movimento se torna negativo para os mercados. Mas, se for gradual e ordenada, junto com mais crescimento e inflação moderada, deve seguir dando suporte à rotação de setores. Por ora, é o que estamos vendo. Por isso, as bolsas americanas estão nos picos históricos, e ativos de crédito operam com taxas baixas”, afirma o profissional, ao destacar os ventos favoráveis para ações cíclicas e do setor financeiro.

Vale dizer que, nas primeiras horas do pregão, as ações dos bancos também sofreram com uma certa cautela, mas abandonaram as mínimas ao longo da tarde. No fechamento, Itaú Unibanco PN teve alta de 1,26%, e as units do Santander avançaram 0,93%. Já Bradesco ON perdeu 1,03% e Bradesco PN recuou 0,08%, enquanto Banco do Brasil ON perdeu 1,16%.

Para os analistas do Morgan Stanley, em nota enviada a clientes, a consolidação de um cenário de reflação nos mercados deverá causar impactos negativos na América Latina, cujos governos têm posições fiscais frágeis atualmente.

“No Brasil, acreditamos que os prêmios de risco devem estar bem negociados no curto prazo, mas provavelmente aumentarão na segunda metade do ano, à medida que a janela para aprovar as reformas começar a se fechar”, dizem os estrategistas Andres Jaime, Ioana Zamfir e Gilberto Hernandez-Gomez, em relação à curva de juros.

Participantes de mercado se queixaram da falta de detalhes sobre a negociação do auxílio emergencial. Embora houvesse expectativa de que o governo e parlamentares da base aliada passariam o Carnaval discutindo a proposta, nenhum detalhe relevante foi apresentado até o momento.

Em segundo plano, também foi monitorada a decisão do plenário do Supremo Tribunal Federal de manter preso o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ). Integrante da ala bolsonarista do Congresso, Silveira foi preso após ameaçar ministros em vídeo. Com a decisão do STF, cresce a pressão sobre a Câmara, que deve julgar o caso em breve. Para a FSA Inteligência, apesar de ter voltado à ordem do dia, o risco de crise institucional tem risco baixo de escalada.