01/12/2020 às 05h01

Ibovespa acumula valorização de quase 16%

Papéis dos setores aéreo, de turismo e ligados a commodities – como Petrobras e Vale – capitanearam os ganhos da bolsa

Por Lucas Hirata e Marcelle Gutierrez | Para o Valor de São Paulo

A euforia com vacinas contra a covid-19 garantiu um ganho significativo para o Ibovespa no mês de novembro, diante da busca global por ações deixadas de lado nos piores momentos da pandemia e que podem se beneficiar da retomada do crescimento econômico. Os papéis dos setores aéreo, de turismo e ligados a commodities – como Petrobras e Vale – capitanearam os ganhos da bolsa. E, apesar de uma correção no último pregão do mês, o Ibovespa registrou também o melhor desempenho, em dólares, entre os principais pares emergentes.

Ontem, o Ibovespa fechou em baixa de 1,52%, aos 108.893 pontos. O ajuste no último dia do mês reduziu o ritmo de valorização, que chegou a mais de 18% no pico das últimas semanas. Ainda assim, o avanço em novembro foi notório, de 15,9% – o mais acentuado desde março de 2016 quando subiu 16,97%. No ano, Ibovespa cai 5,84%.

“Com o desfecho das eleições nos EUA e a expectativa sobre a chegada das vacinas, houve uma mudança grande no mercado. As preocupações com o crescimento global foram parcialmente revertidas. E, com um nível maior de conforto, o investidor global olha com mais atenção o mercado de renda variável e os emergentes”, diz Marcelo Millen, responsável pelo mercado de capitais do Citi Brasil. “Como o país estava sub-representado na carteira dos investidores internacionais, eles voltaram a ter mais ações daqui, com foco em papéis mais líquidos e que se beneficiam do ciclo econômico”, afirma.

O maior exemplo dessa mudança de visão no mercado vem do setor aéreo, que vê uma redução de incertezas sobre a normalização da economia e o fluxo de passageiros. As ações preferenciais da companhia aérea Azul foram as que mais valorizaram em novembro, com ganho de 68,5%. Na sequência, aparecem PetroRio ON, com alta de 59,3%, Gol PN (49,9%) e CVC ON (46,6%).

“Os investidores viraram uma página, começando a montar posições em um cenário que começa a ser olhado por cima do muro. O mercado já traz para valor presente a vacina e a recuperação econômica global em 2021”, afirma Filipe Villegas, estrategista da Genial Investimentos.

O desenvolvimento de vacinas contra covid-19 e o fim da eleição americana, com vitória do democrata Joe Biden, despertaram uma corrida por ativos mais depreciados na crise. Esse é o caso de mercados emergentes, ações do setor aéreo e de turismo, além daqueles mais ligados ao ciclo econômico, como commodities e bancos. Tudo isso em detrimento de papéis que subiram muito ao longo de 2020. As ações ON e PN da Petrobras e ON da Vale apresentam ganhos expressivos no período, de 35,1%, 31,7% e 28,4%, respectivamente.

Para Villegas, a rotação setorial deve continuar nos próximos meses e o Ibovespa pode chegar a até 114 mil pontos ainda em 2020 se houver início da vacinação na Europa e nos EUA e sinalização de agenda de reformas no Brasil. Por outro lado, se não tiver reformas e apenas vacina, o índice fica entre 107 mil e 110 mil pontos. Já sem esses dois importantes catalisadores, o Ibovespa volta para o patamar dos 103 mil pontos.

Dan Kawa, diretor de investimentos da TAG, também acredita que o rali das vacinas possa continuar sustentando a valorização do índice – contanto que o governo e o Congresso evitem um caminho muito heterodoxo para as contas públicas. “O mês de novembro foi muito positivo para bolsas globais e o estrangeiro ingressou com mais de R$ 31 bilhões aqui. Os destaques foram ações de bancos e commodities, como Petrobras e Vale, que são segmentos considerados mais cíclicos e mais de ‘valor’”, diz o profissional, ao destacar o caráter global dessa rotação.

O Ibovespa, assim como outros índices de mercados emergentes, é recheado deste grupo de ações. Desta forma, o índice se beneficiou, junto com a desvalorização cambial, que deixou a bolsa brasileira atrativa em termos de preço.

Em dólar, o Ibovespa é o índice que mais se valorizou em novembro na comparação com os principais pares emergentes e Estados Unidos, com avanço de 25,47%, conforme levantamento do Valor Data. Em segundo lugar, aparece o índice Bist 100, da Turquia, com alta de 23,56% em novembro, seguido por RTS, da Rússia (20,19%); IPC, do México (19,18%); e Colcap, da Colômbia (19%).

Porém, mesmo com os ganhos em novembro, o Ibovespa ainda registra perdas de 28,82% em dólar em 2020, melhor apenas que o Colcap, da Colômbia, que cai 30,80% no ano.

Para Millen, do Citi Brasil, o fluxo para o Brasil continua vindo, mas a incerteza fiscal “torna a perenidade e permanência menos assegurada e mais volátil”. A questão fiscal “não está resolvida, mas não acho que está sendo desprezada. Vai se tornar um ponto recorrente e pode pautar a percepção de risco tanto do investidor local quanto do global”, acrescenta.