Em doze meses, cadastros do Tesouro Direto sobem 69%

Por Kelly Lima | Para Valor, de São Paulo.

O médico mineiro Saulo Duque da Silva, de 32 anos, costumava deixar nas mãos do gerente da sua agência bancária a decisão de quanto e em quais ativos investir. Cliente de um grande banco público, ele confiava na segurança da instituição para cuidar das suas economias. Pesquisando na internet, no ano passado, descobriu que aplicando nos títulos do Tesouro Nacional – via Tesouro Direito – conseguiria reduzir ainda mais os riscos, elevar os ganhos e eliminar intermediários. Desde então, passou a conduzir seus investimentos.

“Eu não sabia como investir. Então, comecei a assistir a vídeos no Youtube. Vi que o Tesouro Direto não era um bicho de sete cabeças, que só era preciso fazer um cadastro numa corretora. Escolhi o Tesouro Direto pela segurança, porque a chance de o governo federal quebrar é baixíssima”, afirma. Desde outubro do ano passado, Silva investe mensalmente. Sua principal preocupação é preservar o dinheiro da inflação. Por isso, compra principalmente títulos atrelados ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Animado com a possibilidade de cuidar das próprias economias sem intermediações, o médico planeja comprar títulos de longo prazo (vencimento em 2045) para a aposentadoria.

A facilidade de acesso à informação e os prêmios mais altos dos últimos anos atraíram pequenos investidores para o Tesouro Direto, destaca o coordenador do curso MBA em gestão financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV) Ricardo Teixeira.

Em dezembro, o governo contabilizou 333,85 mil operações de venda de títulos pelo programa, sendo que 84,6% não ultrapassaram o valor de R$ 5 mil. No mês passado, o total de cadastrados chegou a 3,1 milhões, um avanço de 69,9% em 12 meses, enquanto o número de investidores ativos cresceu 39% no mesmo período.

Esse interesse tem contribuído também para o avanço de uma nova modalidade de corretora, a virtual, com forte atuação via internet e aplicativos de celulares. Elas têm como foco a educação financeira e a autonomia dos clientes. “O brasileiro agora tem acesso a conteúdos e enxerga com facilidade as alternativas de investimento”, diz Fabio Macedo, diretor comercial da Easynvest.

O título preferido pelos investidores do Tesouro Direto é o Tesouro Selic (LFT), corrigido pela taxa básica de juros. Ele representou 49,8% das vendas do programa em dezembro. Menos arriscado, por ser pós-fixado, e de alta liquidez, esse título é apropriado para compor a reserva de emergência, segundo o especialista em investimento do Itaú Unibanco, Martin Iglesias.

O segundo título mais procurado foi o atrelado à inflação, responsável por 30,3% das vendas. Trata-se do Tesouro IPCA (NTN-B), que é uma opção para quem quer manter o poder de compra e garantir a aposentadora. Já o Tesouro Prefixado (LTN), que corre risco de mercado, foi o escolhido por apenas 19,9% dos investidores.

Para Marco Bismarchi, sócio e gestor da TAG Investimentos, ultrapassadas as eleições e também o período de mais instabilidade política e econômica, a tendência é que a rentabilidade dos títulos do governo caia. “Ainda vale investir, mas com algumas peculiaridades. Os títulos de prazos mais longos estão com prêmios interessantes, só que muito menores do que no passado. Investir no Tesouro Selic pode fazer sentido para quem quer ter uma reserva de emergência. Como aposta, não”, avalia.

O publicitário Yuri Rodrigues, de 27 anos, conta que começou a aplicar via Tesouro Direto em agosto do ano passado e que, desde então, não se arrepende de apostar na Selic. “Ainda é possível ter um rendimento muito bom. Se a reforma da Previdência for aprovada, o cenário vai ficar cada vez menos arriscado”, afirma o investidor, acrescentando que também aposta em ações de empresas de setores que, acredita, recebem o apoio do governo, como o agropecuário.