27/05/2020 às 10h18

Dólar estende sequência de baixa refletindo movimento externo

Em movimento de correção, moeda americana já operava mais cedo em queda firme no Brasil, mesmo em sessão sem direção única para outras moedas emergentes

Por Lucas Hirata e Marcelo Osakabe | Para o Valor de São Paulo

Em firme queda pela terceira sessão consecutiva, o dólar comercial volta a ser negociado hoje abaixo de R$ 5,30 – algo que não era visto desde meados de abril. De acordo com analistas, alguns vetores têm dado suporte ao movimento, de maneira combinada: o enfraquecimento do dólar no mundo, um ajuste substancial no balanço de pagamentos e a percepção no mercado sobre o risco político.

Por volta das 13h30, a moeda americana operava em baixa de 1,06%, aos R$ 5,2928, depois de tocar R$ 5,2713 na mínima do dia. O recuo da cotação hoje garante novamente que o real tenha o melhor desempenho do dia entre as principais moedas globais, tirando o prêmio acumulado no ano em relação aos pares.

Os estrategistas do Morgan Stanley ressaltam que o real foi a moeda emergente de melhor performance nas últimas duas semanas e que a posição técnica dos investidores ficou mais limpa, o que sugere que o pico das apostas de valorização do dólar no país atingiu seu pico.

Por outro lado, a posição dos fundos de hedge monitorados permaneceu em -3 na métrica desenvolvida pelo banco americano, que vai de -10 a 10. Este é o menor nível desde a eleição de 2018, e reflete “o risco político, que permanece elevado”, dizem os estrategistas em relatório.

Na política, o mercado vê uma redução do risco de impeachment do presidente Jair Bolsonaro no curto prazo – algo que trouxe bastante receio em semanas anteriores devido a acusações do ex-juiz Sergio Moro contra o presidente Jair Bolsonaro. A leitura é que o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, citada por Moro como prova, não trouxe novidades ou provas irrefutáveis sobre a acusação da interferência de Bolsonaro em investigações da PF.

Ainda assim, a situação ainda não está apaziguada em Brasília. “O país segue dividido e assim deve permanecer por todo o mandato atual. Ainda existe muito ruído e embate entre os três Poderes”, alerta o diretor de investimentos da TAG, Dan Kawa.

Entre os fatores de suporte do movimento no câmbio, Kawa aponta que os dados de abril mostraram um superávit da conta corrente superior as expectativas. A balança comercial e a balança de serviços têm mostrado recuperação, o que compensa a queda do investimento estrangeiro direto e a saída de recursos da bolsa e do mercado de renda fixa.

A depreciação cambial e a crise econômica interna, além do “fechamento” das fronteiras, irá ajudar a promover uma forte ajuste no balanço de pagamentos, movimento que já se mostra encaminhado. “Isso pode vir a dar algum suporte a moeda do país nos atuais níveis de sua cotação”, diz Kawa.

Mais cedo, o dólar acelerou perdas, influenciado pela notícia de que a Petrobras voltará a captar recursos no exterior. Segundo a estatal – que privilegiou o prépagamento de dívidas no exterior nos últimos anos – as emissões serão oferecidas nos prazos de 10 anos e 30 anos, com expectativa de captar US$ 1 bilhão em cada tranche.