Copom: economistas não veem corte de juro no horizonte

Por Angela Bittencourt e Daniela Meibak | Para ValorInveste

Todos os 40 economistas de bancos e consultorias entrevistados em Pesquisa Valor, realizada na semana passada, sobre as perspectivas para as próximas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) projetam a manutenção da Selic em 6,50% ao ano em fevereiro. Para dezembro, porém, 16 dos 40 analistas consultados veem a taxa em alta até dezembro, quando poderá chegar a 8,0% — 1,0 ponto percentual abaixo da estimativa máxima apontada há menos de dois meses. Na pesquisa realizada em dezembro passado, 25 de 33 profissionais contavam com aumento da Selic um ano à frente para até 9,0%. Em um curto período, portanto, diminuíram o número de instituições com visão mais conservadora da política monetária e a perspectiva de ajuste. A combinação dessas duas variáveis é sinal de que as expectativas de inflação estão bem ancoradas.

Na sondagem mais recente, os economistas responderam a questões adicionais e as respostas, recorrentes, revelam que novas reduções da Selic são improváveis se a retomada da atividade fracassar. Caso a reforma da Previdência não seja aprovada, torna-se ainda mais difícil uma revisão do juro para menos de 6,5%. Nesse contexto, são esperadas pressões cambiais sobre os preços na economia. 

As perguntas selecionadas pelo blog Casa das Caldeiras para os analistas consultados sobre projeções para a Selic são as seguintes:

1-Com a inflação na meta ou até abaixo dela, quais são as suas expectativas de curto prazo para a gestão de Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central?

2-Você já enxerga possibilidade de corte na Selic? Considera algum gatilho para que o corte ocorra?

Confira as respostas, na íntegra, e listadas em ordem alfabética que serão publicadas em três blocos. Segue o primeiro bloco: 

Alessandra Ribeiro, Tendências:
1-Não esperamos grandes mudanças de rota para a condução da política monetária no curto prazo [mesmo com o BC sob a presidência de Roberto Campos Neto]. A única alteração que fizemos [no cenário] foi postergar o aumento de juros de setembro/ de 2019 para março de 2020, dados os sinais de recuperação ainda gradual da atividade econômica e expectativas de inflação um pouco abaixo da meta.

Alex Agostini, Austin Rating:
1-Acreditamos que Roberto Campos Neto fará a gestão do “time que está ganhando não se mexe”, ao menos no curto prazo, pois não há motivos para alteração de rumo, por ora!
2-Por enquanto, todas as variáveis determinantes apontam para alta da Selic, a partir de outubro de 2019. Somente se houver nova crise e queda da atividade econômica é que a queda da Selic voltará a ser discutida.

Alexandre Espírito Santo, Órama Corretora:
1-Creio que o cenário de inflação está realmente muito favorável, tanto para 2019 e 2020; não vejo espaço para alta da Selic nesse caso. Assim, se as perspectivas de ajuste fiscal se efetivarem, a inflação pode até cair mais. Nesse caso podemos eventualmente ter uma surpresa e abre-se espaço para testarmos um juro real abaixo de 3%.
2-Sim, vejo queda da Selic em 2020; as reformas aprovadas e a redução drástica do déficit fiscal.

André Perfeito, Necton:
1-[O próximo presidente do BC Roberto Campos Neto] não deve fazer nenhuma grande movimentação macro (no sentido de alterar a Selic ou grandes operações de swap cambial), mas espero que ele aprofunde a agenda microeconômica do BC+.
2-Não vejo cenário de corte do juro, especialmente porque o BC estará buscando consolidar uma reputação mais “hawkish” no início do mandato.

André Freitas, Verus:
1-Não vemos comportamento diferente do BC de Roberto Campos Neto em relação ao de Ilan Goldfajn quanto à política monetária. Ou seja, se houver consolidação da expectativa de inflação abaixo da meta, não podemos descartar novos cortes.
2-O corte de Selic ainda não faz parte do cenário central. Entretanto, a rápida aprovação de uma reforma da Previdência que seja robusta associada a um ambiente externo favorável poderia levar o Banco Central enxergar nível consideravelmente mais baixo do juro real de equilíbrio e promover novos cortes.

Arnaldo Curvello, Ativa Investimentos:
1-Roberto Campos Neto deve manter o discurso firme da importância do controle de gastos na condução da política econômica, criando condições necessárias para um juro estrutural baixo.

Camila Abdelmalack, CM Capital Markets:
1-O novo presidente não deve fazer grandes movimentações quanto aos instrumentos monetários no curto prazo, parece que a manutenção da condução da atual política monetária é o mais prudente até que fique nítido quais serão os desdobramentos da reforma da Previdência. As expectativas de inflação podem ser influenciadas, inclusive, pelo desfecho dessa importante reforma.
2-Não trabalhamos com a possibilidade de corte na Selic, apenas com a possibilidade de a elevação ser postergada.

Carlos Kawall, Banco Safra:
1-Espero continuidade com a política atual. Muda o presidente do BC, fica o regime de metas de inflação.
2-Sim, há a possibilidade de redução da Selic, se houver queda adicional do juro estrutural com a aprovação da reforma da Previdência.

Carlos Pedroso e Mauricio Nakahodo, MUFG Brasil:
1-Esperamos a manutenção de uma postura técnica na tomada de decisões de política monetária, mantendo assim a credibilidade do Banco Central e consequentemente a sua capacidade de coordenar as expectativas de inflação.
2-Não [vemos corte de juro]. Um gatilho para que o corte ocorra seria um cenário de forte enfraquecimento da economia, com perspectiva de recessão, o que aumentaria ainda mais a capacidade ociosa e levaria a necessidade de reduzir ainda mais os juros para estimular a retomada do crescimento econômico. Uma redução da Selic nesse momento de recuperação, mesmo que lenta, da economia, aumentaria o risco de a inflação ficar acima da meta. É preciso salientar que o aumento dos juros que esperamos não é por conta de temor com a inflação, mas porque a atividade econômica se normaliza e o BC pode retirar o estímulo monetário.

Dan Kawa, TAG Investimentos:
1-Acreditamos que [Roberto Campos Neto] dará continuidade a uma política monetária visando inflação em torno da meta, ou seja, um BC que respeita as metas de inflação e o câmbio flutuante.
2-Trabalhamos com um cenário remoto de queda adicional da Taxa Selic. Em caso de aprovação da reforma da Previdência, apreciação cambial, inflação abaixo da meta e crescimento com recuperação apenas gradual vemos algum espaço para a queda da Taxa Selic.

David Beker, BofAML Brasil:
1-Não esperamos mudanças na condução da política monetária [com a nova Diretoria].
2-Não vemos a Selic em queda, a não ser que tenhamos uma apreciação muito significativa e persistente do câmbio.

Daniel Weeks, Garde Asset Management:
1-[Espero da gestão de Roberto Campos Neto no BC] a manutenção da atual política.
2-Revisão forte da atividade para baixo com boas perspectivas da reforma da Previdência poderiam levar a um corte do juro.