Com projeção de recuo nos juros, hora é de investir no prefixado

Analistas esperam queda de taxa no Brasil, alta nos EUA e sugerem estratégia de longo prazo

POR ANA PAULA RIBEIRO

SÃO PAULO – Os últimos meses do ano serão de definição para os investidores que deixam parte de suas reservas em aplicações atreladas aos juros. A expectativa é que o Banco Central (BC) dê início ao processo de redução da Selic, atualmente em 14,25% ao ano. Do outro lado, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deve fazer o processo inverso, elevando os juros e reduzindo, um pouco, o diferencial de taxas entre os dois países. Em meio a esse cenário de mudança, analistas acreditam que é um bom momento para fazer aplicações de médio e longo prazo, garantindo ganhos futuros mais elevados.

A lógica é a seguinte: quando é esperado um ciclo de baixa de juros no Brasil, é melhor procurar investimentos pré-fixados, em especial de maior prazo. Dessa forma, será possível “travar” a rentabilidade na taxa atual e, assim, garantir um retorno maior mesmo no futuro, quando os juros caírem.

— Quando a tendência é de queda nos juros, é melhor estar no pré. Na alta, em títulos pós-fixados. É sempre importante saber qual é a direção. Neste caso de expectativa de baixa (ou seja, de redução da Selic no Brasil), as aplicações atreladas à inflação são as que mais protegem — explicou Flavio Serrano, economista sênior do banco de investimentos Haitong.

A indicação é escolher papéis com vencimento a partir de 2018. Isso porque já é esperada uma queda na Selic até 12% ao fim de 2017, tendo em vista que a inflação deve caminhar para o centro da meta, é que o IPCA fique em 4,5%. A partir daí, os juros no mercado futuro cedem pouco. No entanto, se no decorrer desse tempo as reformas fiscais forem de fato aprovadas, abre-se espaço para novos cortes de juros, ou seja, lá na frente, o ganho em relação às taxas correntes pode ser ainda maior.

CORTE DEVE COMEÇAR EM 2016

Serrano acredita que a Selic pode começar a cair já na reunião de outubro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). Ele espera uma redução de 0,25 ponto percentual e, em novembro, um corte de 0,50 ponto. Já ao fim do ano que vem a taxa chegaria a 11,25% ao ano.

O que pode mudar essa intensidade é a aprovação ou não de políticas de ajuste fiscal e, do ponto de vista externo, uma alta agressiva dos juros nos Estados Unidos — que faria o dólar aqui subir com força e prejudicaria o processo de recuo da inflação. As taxas americanas estão entre 0,25% e 0,50% ao ano. Nesta terça e quarta-feira, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), do Fed, se reúne, mas a expectativa é de manutenção da taxa de juros, hoje no intervalo entre 0,25% e 0,50% ao ano. Um aumento em 0,25 ponto percentual deve vir apenas em dezembro, após as eleições americanas.

Na avaliação de André Leite, sócio da Tag Investimentos, esse movimento gradual de alta de juros nos Estados Unidos já é esperado. E mesmo quando chegar ao seu fim, as taxas não devem passar de 3% ao ano, abaixo da média de 5% de períodos anteriores à crise financeira de 2008.

— Não está na conta dos analistas uma alta acima disso. A gente até acha que pode ficar abaixo de 3%, o que comparativamente deixa o Brasil atrativo para os investidores e garante o fluxo de recursos. Mas há fatores de risco nesse cenário, como as eleições americanas — ressaltou.

Mesmo com riscos pontuais, Leite acredita que os títulos do Tesouro Direto atrelados à inflação são os mais atrativos neste momento. No entanto, é importante ressaltar que é um investimento de médio ou longo prazo e que o investidor pode perder se precisar sacar os recursos antes do prazo final.

— Os títulos com vencimento a partir de 2019 são os mais interessantes. Achamos que se as reformas fiscais saírem, a queda na Selic pode ser maior do que está sendo precificado nas taxas de juros — avaliou.

Segundo dados da agência Bloomberg, os contratos de juros futuros negociados no mercado com vencimento em 2021 estão pagando 12%. Quem comprar um título pré-fixado, terá um rendimento próximo a esse garantido. Já no caso de um pós-fixado, se a Selic cair abaixo desse patamar, o investidor passará a receber menos.

Para Ignácio Crespo, economista da Guide Investimentos, para quem tem disponibilidade de deixar o dinheiro parado por mais tempo, o ideal é apostar nos títulos a partir de 2021. Em sua avaliação, o governo vai conseguir, mesmo que parcialmente, fazer reformas fiscais necessárias para melhorar a relação entre dívida e PIB, permitindo, junto com a redução da inflação, o corte de juros. No entanto, ele espera um processo mais lento. O corte da Selic, para ele, só vem na reunião de novembro.

— Estamos um pouco mais conservadores, mas a tendência é essa. Acredito que os ativos mais interessantes e que irão mais se beneficiar da queda de juros são aqueles de médio e longo prazo, os com vencimento a partir de 2021 — avaliou, lembrando que essa dica vale para papéis do Tesouro Direto prefixados e atrelados à inflação.

IMPACTO NO CÂMBIO

Além da convicção de que os juros no Brasil começam a cair e os americanos a subir, economistas também esperam que, em 2017, o dólar termine em um patamar acima do que será registrado neste ano. Ainda assim, não há um consenso sobre a oportunidade ou não de se aplicar em fundos cambiais, o ativo atrelado ao dólar de acesso mais fácil para a maior parte dos investidores.

— É um investimento de risco elevado. A tendência é de o dólar ganhar força no ano que vem, mas essa intensidade vai depender do Fed e de fatores internos — disse Crespo, para quem ainda não é o momento de buscar esse tipo de proteção.

Já para Leite, da Tag, os fundos cambiais ficam interessantes caso o dólar se aproxime dos R$ 3. Isso porque, apesar do risco, a chance de ganho a partir do ano que vem será elevada, devido a essa tendência de alta para a moeda.

— É possível aplicar uma parcela pequena dos investimentos nesses fundos. Há uma oportunidade de ganho e uma fatia da cesta de produtos do brasileiro é atrelada a moeda estrangeira, como viagens ao exterior e compra de eletroeletrônicos — finalizou.