Butiques têm foco em serviços
Por Suzana Liskauskas | Para o Valor, do Rio
24/03/2017 às 05h00
Com um foco maior em serviços, as butiques de investimentos representam, hoje no Brasil, uma crescente concorrência às grandes instituições financeiras na administração de grandes patrimônios. Os gestores dessas empresas dizem que este é um nicho em expansão, com espaço para diversos perfis, desde as casas que atendem clientes com patrimônio de até R$ 10 milhões àquelas que trabalham com patamares mais elevados.
“Mais de 80% desse business ainda está concentrado nos grandes bancos. Há uma tendência de expansão dos independentes de forma orgânica e inorgânica – fusões, parcerias e aquisições”, afirma Antônio Costa, CEO da Azimut Wealth Management, que administra R$ 2,2 bilhões.
Segundo Costa, a casa fez quatro aquisições de empresas independentes com perfil parecido com o da Azimut em 2016. “Já temos escritórios em São Paulo, Porto Alegre, Salvador e Recife. Ainda neste semestre abriremos um no Rio de Janeiro, a partir da aquisição de uma butique com trabalho muito semelhante ao nosso.”
Para o gestor, os investidores no Brasil, sobretudo no segmento de alta renda e ultra-high, procuram estruturas que permitam um tratamento diferenciado com foco no serviço, não no produto. “Como não somos um banco e não temos metas em relação a produtos, focamos na estratégia mais adequada para cada cliente, o famoso suitability.”
Fernando Cardozo, sócio da Guide, que administra um patrimônio de cerca de R$ 6 bilhões, comenta que, desde o ano passado, vem percebendo um interesse de butiques em buscar plataformas abertas de investimentos em vez de administrar vários relacionamentos com diversas instituições. Ele explica que tem crescido a procura por gestores que prestam o serviço de carteira administrada, assim como as butiques têm preferido concentrar as transações em uma única plataforma aberta, por vantagens como acesso a extrato consolidado, carteira cotizada e curadoria de investimentos.
“É usual que as butiques respeitem os relacionamentos que seus clientes já têm em determinadas instituições financeiras. A equipe vai atuar onde o cliente tem conta e buscar taxas mais favoráveis. Mas isso gera um custo operacional alto, porque são diversos cadastros e tipos de relacionamento para administrar. A Guide tem funcionado com um hub para acessar todo mercado.”
De acordo com Cardozo, a Guide, ao contrário das casas que se posicionam como shopping de investimentos, é uma plataforma aberta que oferece apenas produtos após análises de especialistas que atuam como curadores.
“Fazemos como as áreas de private banking, só disponibilizados produtos que passaram por avaliações de comitês internos, como Comitê de Crédito, de Avaliação de Gestores, Macroeconômico etc. E nossa plataforma é omnichannel, que permite ao cliente acessar a conta dele e fazer transações a partir de qualquer canal de acesso (mobile, desktop, telefone) sem que a operação perca a continuidade”, completa.
Além do foco em serviços, as butiques vêm conquistando clientes que dão extrema relevância à ausência de conflitos de interesses. Thiago de Castro, CEO da TAG Investimentos, que administra cerca de R$ 3,5 bilhões, ressalta o grau de transparência na entrega de serviços e produtos está diretamente ligado à expansão do segmento.
“Sob a regulação da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, é obrigação dos independentes deixar muito claro, no próprio extrato do cliente, os potenciais conflitos de interesse no que se refere à remuneração. Este é um tema que, muitas vezes, deixa de ser discutido na relação cliente/instituição, mas interfere no poder de decisão dos investimentos”, afirma Castro.
Outro ponto a favor das butiques é o alto índice de fidelização do cliente. Lúcia Vidal, diretora da Infinity Wealth Management, comenta que as butiques podem até sofrer pela concorrência das bandeiras das grandes instituições financeiras, mas ganham pontos em fidelização. “Dificilmente um cliente de butique migra, a não ser que a casa não consiga entregar o resultado acordado, apresente uma perda acima do que foi estipulado”, diz.