17/06/2020 às 05h01

Bolsa sobe com exterior, mas dólar segue sob pressão

Ibovespa fecha nos 93.531 pontos; dólar atinge R$ 5,2365

Por Marcelle Gutierrez, Lucas Hirata e Ana Carolina Neira | Para o Valor de São Paulo

 

O tom positivo vindo do exterior com iniciativas do Federal Reserve (Fed) e do Banco do Japão (BoJ) de estímulos financeiros sustentou a bolsa brasileira no azul. O clima de cautela, entretanto, continua no radar com dados econômicos fracos do Brasil e avanço da pandemia. Tanto que a busca por proteção do dólar imperou no mercado brasileiro de câmbio, levando a cotação para um avanço de quase 2%.

O Ibovespa fechou em alta de 1,25%, aos 93.531 pontos, mas distante da máxima do dia de 95.216 pontos – avanço de 3,07%. O dólar comercial fechou com valorização de 1,84%, aos R$ 5,2365, depois de tocar R$ 5,2420 na máxima do dia. Foi a quinta alta consecutiva da moeda americana.

O movimento da bolsa brasileira foi um pouco aquém do visto em Nova York, mas em linha com outros emergentes. Em Nova York, o Dow Jones fechou em alta de 2,04% e o S&P 500, de 1,90%. Entre os pares latino-americanos, o S&P/BMV IPC, do México, subiu 1,28%.

O tom positivo dos mercados veio dos anúncios dos bancos centrais dos Estados Unidos e do Japão, injetando ainda mais liquidez, o que, em cenário de taxas de juros baixas, favorece o apetite ao risco. O Fed anunciou um programa de compra de títulos corporativos e o Banco do Japão (BoJ) expandiu o programa de compras de títulos comerciais e corporativos para 110 trilhões de ienes, cerca de US$ 1 trilhão.

Porém, o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, arrefeceu os ânimos. No Senado americano, ele disse que “ainda há incerteza significativa” sobre o momento e força da recuperação econômica.

Por aqui, dados econômicos e o avanço da pandemia também deixam os investidores cautelosos, apesar de seguirem com viés comprador. Entre os dados divulgados, o volume de vendas no varejo ampliado recuou 17,5% em abril ante março, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e o desemprego cresceu a 10,8% entre a primeira e última semana de maio, para 10,875 milhões de pessoas.

Para Fábio Galdino, gerente de renda variável da Vero Investimentos, mesmo com dados negativos nos próximos meses, a bolsa brasileira ainda consegue resistir por ter um preço atrativo em dólar e pelo excesso de liquidez nos mercados. “Foram tantos estímulos econômicos que ninguém vai ficar com o dinheiro queimando na mão.”

No mercado de câmbio, também houve “alguma influência da expectativa sobre a postura do Copom, de que poderia vir com um viés mais ‘dove’”, explica Marcos Mollica, gestor do Opportunity. Apesar desta percepção, o profissional acredita que o Copom deve indicar uma pausa no processo de afrouxamento monetário e colocará exigências maiores para aplicar novos cortes.

Outro fator que segue incomodando é a evolução da pandemia. “Acho que estamos melhorando, mas muito lentamente. Quando começam a aparecer dificuldades na abertura em outros lugares, o mercado coloca um risco adicional para o Brasil”, acrescenta.

O Brasil tem mais de 890 mil casos confirmados de covid-19 e mais de 44 mil mortes.

A busca por proteção se intensificou com a notícia de que Pequim está elevando o nível de alerta com a covid-19 e já teria ordenado o fechamento de escolas, elevando os temores de uma segunda onda de contágio.

Para o diretor de investimentos da TAG, Dan Kawa, os fundamentos para um real mais depreciado estruturalmente não mudaram. “Piora fiscal, menor diferencial de juros, menor custo de oportunidade de ter o dinheiro no Brasil, ambiente político conturbado, entre outros”, afirma. E isso ajuda a explicar a reversão da trajetória de alívio no dólar, que até poucos dias atrás estava em menos de R$ 5.

Apesar do dólar ter superado os R$ 5,22, o mercado de juros teve um comportamento mais contido, em um sinal da expectativa no mercado sobre uma postura mais flexível do Copom sobre seus próximos passos.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 teve leve queda a 2,09% (2,12% no ajuste anterior), enquanto os vencimentos mais longos subiram. O DI para janeiro de 2025 avançou a 5,76% (5,71% no ajuste anterior) e o DI para 2027 subiu a 6,74% (6,64% no ajuste anterior).