Analistas sugerem alocação em prefixados

Por Adriana Cotias | De São Paulo – 01/12/2016 às 05h00

“Aproveite a Black Friday dos prefixados.” É com esse espírito que estrategistas de investimentos põem os pés em dezembro e se preparam para a virada do calendário para 2017. Com a percepção que o mundo mais volátil após a chegada de Donald Trump à Casa Branca e os entreveros políticos no Brasil não alteram a trajetória de queda da Selic, essa é a posição que pode render melhores frutos para os investidores. As sugestões incluem ainda as notas atreladas à inflação, que tendem a acompanhar o ciclo monetário.

No Tesouro Direto, sistema de negociação de títulos públicos pela internet, por exemplo, o Tesouro Prefixado com vencimento em 2023 apontava ontem taxa a 12,01% ao ano, enquanto a Selic projetada para o final de 2017, segundo as previsões do mercado no último boletim Focus, está em 10,75% ao ano. A lógica é que, se tudo correr como planejado, o investidor pode se apropriar por mais tempo da remuneração superior à da taxa que estará em tese rodando a economia.

A “liquidação dos prefixados” é para perfis moderados a arrojados, ressalva André Leite, sócio da gestora de patrimônio Tag Investimentos. Isso porque nada garante que a travessia será sem percalços. Vale lembrar que a surpresa Trump deixou na memória aquela sensação de prejuízos com títulos de renda fixa pelo efeito da atualização dos ativos a preços do mercado – de lá para cá, boa parte foi recuperada.

Numa carteira com esses perfis, a divisão sugerida é de 30% nos prefixados e 40% nas NTN-B, com a fatia caindo a 5% em cada posição para os mais conservadores, apegados ao CDI.

Para o especialista, a melhor alocação de risco para atravessar dezembro e multiplicar o patrimônio em 2017 são os títulos longos. “Com a Selic no nível atual e a inflação projetada em 5% no ano que vem ou até um pouco abaixo disso, o juro real na casa dos 9% é grotesco para uma economia em recessão e que deve ter o crescimento frustrado em 2017”, afirma.

Conforme pontua, o ideal é sempre olhar para o ganho real – o retorno acima da inflação e que de fato preserva o poder de compra e o patrimônio do aplicador. Não adianta a Selic cair à metade e o retorno próximo do CDI não garantir nem a inflação.

Numa virada de ano que promete ser recheada de volatilidade, não há por que o investidor colocar o pé em outros tipos de risco e deixar a renda fixa, diz o economista-chefe da Infinity Asset Management, Jason Vieira.

Para o especialista, o programa de corte de juros empreendido pelo BC tende a ser mais extenso e menos intenso. Por isso, ele considera haver menor ganho a capturar em títulos indexados à inflação. “Não vai ser um retorno ruim, vai acompanhar o ciclo, mas tem mais prêmio nos prefixados.”

O Banco Central (BC) deve ter algum conforto para atingir a meta de 4,5% de inflação para o ano que vem e tal prerrogativa sugere haver retornos excedentes em posições atreladas a juros, afirma Gilberto Kfouri Jr., responsável pelas estratégias de renda fixa e multimercados da BNP Paribas Asset Management. Segundo o executivo, a escalada das taxas embutidas nos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, após a eleição de Trump poderia, em tese, fazer o BC brasileiro até reduzir o ritmo e estender o ciclo de corte da Selic, mas o plano monetário de afrouxamento tende a prevalecer.

A mesma avaliação vale para uma eventual deterioração da cena política local, com os desdobramentos da saída de dois ministros do presidente Michel Temer, que poderia afetar os ativos pelo canal do câmbio.

Embora trabalhe com um ambiente naturalmente mais volátil para os próximos meses, o especialista vê espaço para uma queda relevante da Selic no Brasil no avançar para 2017 e 2018. A casa projeta que o corte total da taxa básica da economia – incluindo as ações já feitas – possa chegar a 450 pontos básicos. No fim do ciclo, a Selic estaria abaixo de um dígito, em 9,75% ao ano.

Para evitar ficar exposto, entretanto, às decisões de política monetária diretamente, a estratégia da casa tem sido evitar papéis indexados à inflação mais curtos, e também os mais longos, que tendem a ser vulneráveis ao cenário de alta de juros nos EUA. A preferência, diz Kfouri, são os vencimentos intermediários, acima de 2020, em juro real e, apesar de ver valor em toda a curva de juros prefixada (dada pelas projeções nos diversos contratos), o esforço foi encurtar um pouco a posição para não ser castigado por algum revés de preços ditado pelo ambiente de incertezas.

Foi justamente o aumento da volatilidade que amplificou os prêmios dos prefixados. Para o superintendente de investimentos do Santander, Christiano Ehlers, a gordura aparente que havia nesses títulos após o revés com a eleição de Trump já foi queimada. Por isso, ele prefere as NTN-B, que asseguram uma taxa pré-definida mais a correção pelo índice oficial de inflação. “Travar inflação mais 6% de taxa de juros é uma remuneração alta em qualquer lugar do mundo.”

Ehlers considera que o fato de o ambiente internacional ser mais inflacionário com tendência à alta de juros numa economia-chave como a americana não atrapalha a rota monetária para o Brasil. “O BC tem se mostrado consistente em combater a inflação. Talvez, na margem, altere o quanto [a Selic] cairá ou a velocidade, mas a tendência, não.”

A instituição esperava um corte mais expressivo ontem, de 0,50 ponto percentual – o que não se confirmou com a redução de 0,25 ponto para 13,75% ao ano. De qualquer forma, para o fim de 2017, a taxa básica deve estar perto de 9,5% ao ano.

O salto de juros pós-Trump é um prato cheio para o investidor ampliar a sua alocação em renda fixa, reitera Carlos Fagundes, sócio-diretor da consultoria Integral-Trust.

“É uma boa oportunidade para travar papel pré taticamente”, diz. “Essa taxa tem sentido de queda, então nada como aproveitar que deu um suspiro para cima”. O especialista considera que o juro real embutido nos prefixados é proporcionalmente maior ao que se tem nos papéis atrelados ao IPCA. “É um prêmio gigante. Vá direto para o pré e seja feliz”, afirma.