À espera de mais luz
As estratégias dos gestores de grandes fortunas para multiplicar milhões, em um cenário que ainda traz muitas incertezas.
Por Flavia Galembeck – 27/01/2017
Entre 2014 e o começo de 2016, investir dinheiro era fácil. Ganhou quem apostou em juro alto e dólar para cima, no aumento do Risco Brasil devido às barbeiragens de Dilma Rousseff e sua turma. Porém, o ano passado foi um divisor de águas. Diversas surpresas fizeram essa estratégia deixar de funcionar. Em junho, a decisão do Reino Unido de sair da Comunidade Europeia, o Brexit. Em agosto, o impeachment definitivo de Dilma. E, em novembro, a eleição de Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos.
O resultado foi que o dólar depreciou 18% em relação ao real e os juros iniciaram uma trajetória descendente, que deve se alongar por 2018. Com isso, a multiplicação dos bilhões ficou bem mais difícil. Não por acaso, no ano passado, o resultado médio dos gestores de grandes fortunas foi de 103% dos juros de mercado medidos pelo CDI, um ganho pequeno, ainda mais quando comparado à alta de alguns fundos multimercados, superiores a 140% do CDI. O que esperar para 2017? DINHEIRO perguntou para eles quais suas estratégias para multiplicar o capital de seus clientes abonados neste ano, e explica as diferentes visões.
Antes, um aviso. “Fortuna”, aqui, é algo tão variável quanto a metragem dos iates de milionários. Na gestora de recursos Rio Bravo, significa R$ 1 milhão ou menos, dependendo do perfil do investidor. Já na Aditus Consultoria Financeira, o patrimônio médios dos clientes é de R$ 400 milhões. Em geral, fazer parte desse clube exige pelo menos R$ 10 milhões em aplicações. Mas mesmo a menor dessas cifras garante o acesso às melhores estratégias para fazer seu dinheiro crescer, correndo mais ou menos riscos. Os gestores são unânimes em afirmar que a dobradinha juros e dólar perdeu muito de sua mágica.
“Desde 2014, a indústria apostou na valorização do dólar e montou posições em fundos de investimentos indexados, em fundos de ações americanas e em renda fixa nos Estados Unidos, comprando títulos públicos e privados, ainda que de curto prazo”, diz Leonardo Bortoloto, sócio da Aditus Consultoria Financeira, que administra R$ 25 bilhões. Essa aposta foi mantida durante boa parte do ano passado, e levou aos resultados modestos. A percepção de melhoria do risco-Brasil no segundo semestre atraiu investimentos estrangeiros e fez as ações subirem de preço, mas isso não se traduziu em lucros. “Muitos gestores perderam a alta da Bolsa”, diz.
Para este ano, diz Bortoloto, a recomendação para os clientes é correr mais riscos, alocando dinheiro em fundos multimercados que investem em contratos futuros de juros e de câmbio, mas que evitam os solavancos mais abruptos das ações. Esses só são recomendados para quem pensa em um prazo mais longo de resgate, ou para os investidores que não se incomodam em ver seu dinheiro encolher, ainda que temporariamente. Esse movimento começou nos primeiros dias de janeiro e vem se amplificando à medida que o ano avança. No caso da Rio Bravo, essa migração também já começou, e a recomendação é fazer o dinheiro seguir, em um primeiro momento, dos fundos de renda fixa para multimercados com baixa volatilidade.
“Grandes oscilações nos fundos podem assustar o investidor que está acostumado com os ganhos altos e previsíveis da renda fixa”, diz André Nascimento, consultor da área de grandes fortunas da Rio Bravo. Quem não abre mão do conforto da renda fixa terá de ser mais seletivo. Ao longo dos últimos dois anos, qualquer aporte encorpado nos juros garantia ganhos reais de até dois dígitos. Agora, esses títulos se tornaram uma raridade no mercado. Um movimento de migração para aplicações isentas de imposto, como os fundos imobiliários, começou em julho do ano passado e deve continuar ao longo de 2017.
Neste ano, as atenções se voltam aos papéis isentos de impostos, como as debêntures de infraestrutura e os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e do Agronegócio (CRA). “Em um cenário de juros em queda, a ausência de impostos ganha, proporcionalmente, mais importância no cálculo final da rentabilidade”, diz Marco Bismarchi, sócio e gestor da Tag Investimentos, que tem sob sua administração R$ 3,5 bilhões em recursos. Outra alternativa são operações complexas montadas pelos gestores e que se servem de contratos futuros e opções, assim como outros derivativos.
Chamados de Certificados de Operações Estruturadas (COE), esses investimentos são instrumentos financeiros sofisticados, destinados a investidores qualificados e cuja aplicação mínima é de R$ 250 mil. Na média, em 2016, a rentabilidade desses investimentos superou em dez pontos percentuais os juros de mercado medidos pelo CDI, o que, na ponta do lápis, representa 22% ao ano.
Muitos profissionais estão de olho nos derivativos de energia, mirando na recomposição de tarifas e no aumento do consumo, com o reaquecimento da economia, a partir de 2018. Segundo Paulo Sayon, sócio-fundador da comercializadora de energia Compass, esses derivativos renderam 36% ao ano, em média, em 2016, e esse percentual deve ser mantido neste ano. “O consumo de energia cresce rápido quando a economia se aquece, mas elevar a capacidade instalada demora vários anos. Nesse meio tempo, os preços sobem e os investidores ganham”, diz ele. Sua expectativa é que esse mercado, que movimentou cerca de R$ 1 bilhão no Brasil no ano passado, triplique de valor neste ano. “E essa é uma estimativa conservadora”, diz ele.