04/02/2021 16h33

Juros futuros fecham em alta após leilão do Tesouro e com EUA no foco

Cena doméstica brasileira foi deixada em segundo plano, embora os agentes financeiros continuem a monitorar o progresso da agenda econômica no Congresso

Por Victor Rezende | Para o Valor de São Paulo

No dia em que o Tesouro Nacional promoveu outro leilão com oferta significativa de papéis prefixados de longo prazo, os juros futuros se ajustaram em alta firme e o movimento se mostrou bastante expressivo nos trechos intermediários e mais longos, o que fez a curva voltar a ganhar inclinação nesta quinta-feira. Além dos fatores técnicos relacionados ao leilão, o processo de abertura da curva de rendimentos dos Treasuries (títulos do Tesouro americano) também influenciou os negócios, enquanto a cena doméstica foi deixada em segundo plano, embora os agentes financeiros continuem a monitorar o progresso da agenda econômica no Congresso.

No fim do pregão regular desta quinta-feira, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 passava de 3,34% no ajuste anterior para 3,36%; a do DI para janeiro de 2023 avançava de 4,78% para 4,875%; a do contrato para janeiro de 2025 saltava de 6,20% para 6,32%; e a do DI para janeiro de 2027 subia de 6,88% para 6,99%.

Embora tenha diminuído a oferta de LTNs no leilão de hoje, o Tesouro fez uma oferta significativa de NTN-Fs, o que aumentou a colocação de risco (dv01) no mercado. Foram leiloados 3 milhões de papéis com vencimento em janeiro de 2029 e mais 2 milhões que vencem em janeiro de 2031. O Tesouro conseguiu vender o lote integral de NTN-Fs ao atrair boa demanda, mas o leilão grande deixou reflexos no mercado e deu sustentação à abertura das taxas futuras de longo prazo.

“O Tesouro, mais uma vez, foi bastante assertivo em mapear o mercado e servir quase que por completo a demanda”, afirma Luis Laudisio, trader de renda fixa da Renascença. Para ele, diante da ausência dos dealers nesta semana, o investidor local acabou “puxando” um pouco mais as taxas, o que deixou o mercado mais desconfortável. “Foi um movimento mais técnico o de hoje”, diz. A taxa do DI para janeiro de 2029 subiu de 7,33% no ajuste de ontem para 7,43%.

Além dos fatores técnicos, o comportamento da curva de juros também espelhou o cenário externo, onde o “reflation trade” voltou a ganhar força, especialmente nos Estados Unidos. Na máxima do dia, o rendimento da T-note de dez anos saltou a 1,162%, enquanto o retorno do T-bond de 30 anos chegou a 1,952%. O dólar acompanhou a disparada das taxas dos Treasuries, o que também se refletiu no comportamento do câmbio por aqui, onde a moeda americana voltou a superar a barreira de R$ 5,45.

“O mercado global vinha montando posições vendidas em dólar ao longo dos últimos meses e esse movimento recente de dólar um pouco mais forte pegou as posições técnicas no contrapé. O euro, que chegou a US$ 1,25, hoje voltou a níveis abaixo de US$ 1,20 e isso tem impacto na dinâmica de preço do real também”, afirma Dan Kawa, diretor de investimentos da TAG. Para ele, o arrefecimento relativo da pandemia nos EUA em relação aos países europeus e o processo de vacinação mais acelerado em solo americano, onde mais de 1 milhão de pessoas são imunizadas por dia, tem tido impacto do dólar.

Esse processo, de acordo com Kawa, deu suporte à abertura da curva de rendimentos dos Treasuries. “Grosso modo, é um movimento que acontece no mercado global hoje e que está intimamente ligado aos ativos do Brasil”, diz.