01/06/2020 às 05h00

Combinação de fatores contém a alta do dólar

Analistas defendem que um novo equilíbrio das contas externas têm contribuído para liderar esse movimento

Por Lucas Hirata e Marcelo Osakabe | Para o Valor de São Paulo

Depois de chegar a quase R$ 6, o dólar recuou quase 10% nas últimas duas semanas, interrompendo longo período de valorização. Um dos fatores que contribuíram para isso foi a forte redução na saída de capitais. Enquanto em março, estrangeiros retiraram do país US$ 22,2 bilhões que estavam investidos em ações e títulos de renda fixa, em abril o montante caiu para US$ 7,3 bilhões e em maio, até o dia 21, para US$ 2,8 bilhões.

Outra razão foi a superação da fase mais aguda do ajuste dos bancos às novas regras de “overhedge”, isto é, de proteção adicional exigida pelo Banco Central (BC) para ativos mantidos por instituições brasileiras no exterior. Para se adequarem, os bancos vinham operando com forte demanda por dólar. “Uma vez feito esse ajuste, essa demanda caiu bastante”, explicou o diretor de investimentos da TAG, Dan Kawa.

Um terceiro fator foram intervenções mais fortes do BC no mercado. “Fizemos intervenções maiores. Até estávamos preparados em algum momento para fazer uma intervenção [ainda] maior. Acabou que o câmbio voltou recentemente um pouco”, disse, na sexta-feira, o presidente do BC, Roberto Campos Neto.

Os analistas se dividem quanto ao papel das contas externas na valorização do real. Em abril, o saldo em transações correntes foi superavitário em US$ 3,8 bilhões. Especialistas atribuem o resultado, porém, à paralisação de viagens internacionais e da remessa de lucros e dividendos, uma vez que a economia praticamente parou.