31/05/2019 às 05h00

Cautela volta a pesar no mercado local

Por Marcelo Osakabe, Ana Carolina Neira e Daniela Meibak | Para o Valor, de São Paulo 

O bom humor com o cenário político que prevalece nos últimos dias voltou a ditar o tom dos mercados durante boa parte da sessão de ontem. O dólar se manteve abaixo da marca de R$ 4 e o Ibovespa engatou sua quarta alta consecutiva.

Os ativos brasileiros perderam fôlego apenas no fim do pregão, afetados por notícias envolvendo a Petrobras. O Ibovespa terminou em alta de 0,92%, aos 97.457 pontos, depois de bater 97.939 pontos na máxima do dia. Já o dólar chegou a cair até R$ 3,9551, na mínima, mas fechou praticamente estável, com ligeira alta de 0,05%, aos R$ 3,9774. O movimento também refletiu parcialmente o panorama no exterior.

A recomposição de preços dos ativos brasileiros se deve, em grande parte, às apostas de que a reforma da Previdência tem um caminho menos turbulento até sua aprovação. Aos poucos, entretanto, os analistas começam a recomendar um pouco mais de cautela, já que as incertezas ainda assombra o cenário local.

“Sigo mais construtivo com o cenário para o Brasil e seus ativos. Contudo, após a recuperação recente de preços, começo a recomendar a redução de posições mais táticas no mercado de juros e renda variável local”, afirma Dan Kawa, diretor de investimentos na TAG, em análise.

O profissional ainda espera bom desempenho estrutural dos ativos, mas destaca que o nível de preços e a posição técnica não são mais os mesmos de alguns dias atrás. “Não espero uma mudança de tendência positiva, por ora, mas acho que a parcela mais tática pode ser reduzida, mantendo a posição estrutural inalterada.”
 

No mercado de juros, as taxas tiveram uma nova rodada de queda, num movimento iniciado no começo da semana passada. No entanto, afastaram-se das mínimas do dia no fechamento do pregão regular. Para se ter ideia da amplitude da sequência de baixas, o DI de janeiro de 2025 foi de 8,85% para 8,20% em quase duas semanas. Trata-se de uma queda de 0,65  ponto percentual na taxa. Para base de comparação, o Banco Central costuma alterar os juros em múltiplos de 0,25 ponto.

Depois desse recente desempenho mais favorável dos ativos, o clima de cautela se faz mais presente agora e começa a diluir tanto otimismo na política. Ontem, uma série de notícias serviu para esfriar a busca por ativos locais.

O Supremo Tribunal Federal (STF) postergou para a próxima semana a decisão sobre a venda da Transportadora Associada de Gás (TAG) pela Petrobras. Isso cobrou um pedágio dos ativos locais. A desvalorização de Petrobras ON (-0,17%) e Petrobras PN (-1,32%) foi responsável por segurar o Ibovespa. A frustração do mercado foi inegável, uma vez que muitos analistas acreditavam que a suspensão da venda da TAG – tema da discussão no STF – seria revertida sem maior obstáculo.

Além disso, o Senado adiou para segunda-feira a votação da MP 871, que combate fraudes no INSS, e da 872, que prorroga o prazo de recebimento de gratificações de servidores requisitados pela Advocacia-Geral da União (AGU). Já no exterior, houve forte queda dos preços de petróleo, afetando mercados sensíveis a exportações. “Houve grande melhora dos fatores internos nas últimas semanas, mas o balanço de risco ainda está simétrico. Qualquer piora no exterior ou interna pode fazer o dólar voltar a subir”, diz Victor Candido, economista-chefe da Guide.

Por outro lado, o destaque positivo do Ibovespa foi JBS ON (5,20%), que beneficiou-se do agravamento da peste suína na China. Em relatório, a XP Investimentos aponta que a proliferação da doença aumenta as preocupações com o desequilíbrio entre oferta e demanda global de proteína. “Investidores começam a pensar que os impactos da doença já estão precificados, o que, em conjunto com preços mais altos dos grãos nos EUA, incentivam realização dos lucros no curto prazo”, aponta a XP.