Na incerteza, prioridade é dar rentabilidade ao caixa

Por Danylo Martins | Para o Valor, de São Paulo

31/07/2017 – 05h00

Com a crise política e sinais ainda tímidos de retomada da economia, os clientes corporativos correm em busca de orientação sobre como gerir melhor o dinheiro nesse cenário instável. A prioridade tem sido encontrar aplicações que ajudem a rentabilizar o caixa. Entre os executivos e gestores, o consenso é aplicar os recursos em papéis conservadores, de baixo risco, com boa liquidez e prazos mais curtos. Mas também há oportunidade para operações estruturadas, na visão de alguns especialistas.

Ainda assim, dizem analistas, a gestão do caixa precisa ser cuidadosa e criteriosa, e isso significa ter cautela na hora de selecionar as aplicações financeiras. “Por mais que o cenário esteja conturbado, o caixa de uma empresa não deve ser alocado num ativo de risco”, enfatiza André Paes, diretor responsável pela área institucional, produtos e estratégia de mercado da Infinity Asset.

A principal recomendação é investir em títulos pós-fixados, que acompanham o Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), e em papéis que possibilitam o resgate a qualquer momento, como Certificados de Depósito Bancário (CDBs). “O core business precisa ficar preservado.

Hoje, o que a empresa tem é um poder de barganha junto aos bancos para negociar a rentabilidade do título”, destaca Mauro Calil, especialista em investimentos do banco Ourinvest. Em instituições financeiras de médio ou grande porte onde a companhia já possui algum tipo de relacionamento, é possível conseguir CDBs com rentabilidade de até 98% do CDI e liquidez diária, exemplifica Calil.

No Citi, a indicação dos investimentos passa por conhecer a dinâmica dos dois componentes do caixa, o operacional e o não operacional. Para o primeiro, a necessidade de liquidez imediata impõe a seleção de produtos financeiros de curto prazo. “Diferentemente de outros mercados maduros, o Brasil ainda fica restrito a papéis com aplicação automática, como CDBs, que buscam ganhar um pouco de eficiência num horizonte mais curto”, pontua Tiago Carneiro, responsável por produtos de liquidez do Citi Brasil.

Mesmo com a redução da taxa básica de juros (Selic), o rendimento real compensa se levar em conta a inflação cadente, complementa Luis Kondic, superintendente de vendas da tesouraria do Citi. “A taxa de juro real é interessante, inclusive comparada à praticada em outros mercados”, diz. Nesse contexto de Selic menor – com perspectiva de chegar a 8% até o fim deste ano, segundo o último Boletim Focus, do Banco Central -, há oportunidade de diversificar os investimentos. Isso vale desde que a empresa tenha disponibilidade de caixa por um prazo maior, acima de seis meses.

Segundo Luiz Masagão, diretor de tesouraria responsável pelo atendimento aos clientes do Santander Brasil, é possível observar companhias ampliando o leque de aplicações. “Com a queda dos juros, as empresas começam a olhar instrumentos diferentes. Vimos, por exemplo, uma migração de algumas empresas para fundos DI, que oferece rentabilidade maior, agregando o mínimo de risco”, afirma.

Com um prazo de investimento entre seis meses e um ano, mais uma possibilidade é aplicar em títulos privados e títulos públicos, com preferência pelos papéis prefixados, indica Francisca Brasileiro, sócia-gestora da TAG Investimentos. “Os fundos exclusivos são uma forma de montar uma carteira com esses ativos”, diz. Também dá para investir diretamente em títulos públicos, mas a operação é mais arriscada, pois os papéis estão sujeitos à marcação a mercado e dependem da venda no mercado secundário, lembra Kondic, do Citi.

Para horizonte de dois anos ou mais, o executivo cita as letras financeiras (LFs), títulos de dívida bancária semelhante às debêntures emitidas por empresas. Outra opção são os Certificados de Operações Estruturadas (COEs), modalidade que permite aos bancos emissores montarem uma série de estruturas a partir de cenários futuros para o desempenho de algum ativo ou índice, como ações, câmbio ou inflação. “É um produto que pode ser desenhado conforme a necessidade do cliente, com estrutura de capital garantido. Tem bastante flexibilidade e pode contar ou não com liquidez”, afirma.

As alternativas incluem até mesmo investimento físico e em maquinário, no caso de companhias que fizeram a lição de casa, por exemplo, enxugando custos e reduzindo capacidade produtiva ociosa. “Quem fez isso há três, quatro anos, hoje pode encontrar boas oportunidades para renegociar aluguel ou mesmo um novo imóvel”, afirma Francisca, da TAG. “Mas ainda há um número grande de empresas com muita capacidade ociosa ou plantas operando abaixo da produção. Esse empresário não tem por que e nem como investir neste momento”, ressalva.

Quando o assunto é investimento para pessoa jurídica, deve-se considerar a necessidade de caixa dentro do ciclo financeiro da empresa, segundo Calil, do Ourinvest. “É fundamental levar em conta o plano de negócios, os planos de expansão, entre outros fatores”, afirma o executivo. “A companhia precisa saber que ela não é uma empresa financeira. O operacional sempre será mais importante e o caixa deve servir ao negócio”, complementa Masagão, do Santander.