Movimento no private cresce 7% no acumulado até junho
 

Por Angela Ferreira | Para o Valor, de São Paulo

Os cenários político e econômico foram marcados por muita turbulência nos últimos tempos. Mesmo assim, o segmento de private banking registrou alta. Dados da indústria consolidados pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que o setor movimentava R$ 762,64 bilhões em junho. Ao final de 2015, este montante era da ordem de R$ 721,48 bilhões, o que representa variação de 7,04% no ano. O número de profissionais de atendimento, contudo, caiu: eram 2026 ao fim do ano passado, indo para 1965 em junho de 2016; uma retração de 3,01%.

Se nos últimos anos, o momento delicado do país impulsionou certo conservadorismo, o ambiente agora já é de apostas mais agressivas. “No período entre 2013 e 2015, as carteiras se posicionaram de forma muito mais defensiva, com lastro maior em CDI. Ao longo deste ano, as decisões posicionam as carteiras à exposição maior ao risco, tanto na parte de renda fixa como na renda variável. “Hoje, temos o nível mais elevado de exposição para os portfólios das carteiras desde 2012. Mas, obviamente, o percentual adotado em cada uma delas depende do perfil ao risco de cada cliente”, comenta Rafael Mazzer, diretor do private banking do BTG Pactual.

No Santander, a diretora executiva do private banking, Maria Eugênia Lopez, explica que não houve crescimento nas proporções de perfis balanceado, arrojado e agressivo na base de clientes em 2016. “No entanto, dentro de seus respectivos perfis neste ano os investidores aumentaram suas exposições médias em títulos de  inflação e, principalmente, Bolsa, cuja participação média nos perfis agressivos já ultrapassa 20% em 2016”, diz.

A preservação do valor real do dinheiro foi prioridade nos últimos três anos, comenta Mauro Rached, diretor do BNP Paribas Wealth Management Brasil. “Naquele período, a nossa abordagem foi muito conservadora, pois era o que o momento pedia. Mesmo os produtos de maior risco sempre estavam atrelados a proteções. O cenário mudou, mas nem todos já perceberam essa alteração: vivemos um momento extremamente importante para a recalibragem das carteiras de investimentos”, adverte o diretor.
 

Para ele, as mudanças implementadas pelo governo interino levam a crer que nos próximos quatro anos haverá melhoria das condições macroeconômicas nacionais. “Para tanto, acreditamos na probabilidade razoável de o próximo governo ter alinhamento com as políticas que estão sendo adotadas agora”, complementa.

Com a redução das incertezas no campo político e a melhora nas perspectivas econômicas, o Bradesco também ampliou as recomendações para os investimentos de maior risco que se encontravam em níveis extremamente depreciados e que nos últimos anos representaram baixa exposição nos portfólios dos clientes. “Nossas principais recomendações continuam sendo para ativos de renda fixa, focados nas estratégias de ativos prefixados e atrelados à inflação. O Brasil tem uma taxa de juros real muito atrativa e, ao passo que as medidas fiscais forem endereçadas, os investidores poderão se beneficiar deste fechamento”, comenta o superintendente de investimentos do Bradesco Private, Leandro Karam.

Ele adverte, contudo, que a recomendação da implementação dessa estratégia deva ser diversificada em vencimentos intermediários e longos, priorizando emissores com bom risco de crédito e produtos que possam oferecer eficiência tributária aos clientes pessoas física. “O benefício tributário é poderoso para operações que pagam taxa de juros mais a correção da inflação. Ainda temos oportunidades destas operações isentas de IR que pagam entre 6,0% e 7,0% acrescidos do IPCA e com boa qualidade de crédito”, diz.

As alocações em ações também foram majoradas pela equipe do Bradesco. “O mercado acionário tem o potencial de valorização com o endereçamento da agenda fiscal e das reformas estruturais. Não duvidamos da capacidade do Ibovespa superar os 100 mil pontos nos próximos três anos. Porém, atualmente, achamos  interessante comprar estruturas de proteção nas posições de renda variável, com objetivo de defender os atuais ganhos e ainda permitir níveis de rendimento atrativos”, pondera Karam.

A melhora do cenário doméstico na comparação com o internacional é sinal positivo para os investimentos no mercado local, complementa Marcelo Santucci, também diretor do BTG Pactual. O cenário de alta de juros do Banco Central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), foi bastante alterado ao longo destes primeiros meses, avalia Santucci, muito  por conta de uma fraqueza da economia americana, que cresceu perto de 1% apenas, em termos reais. “É o menor crescimento desde 2010. Esse ambiente combinado ao cenário de aumento de risco político, seja de incertezas por conta do Brexit na Europa e mesmo a configuração política nos Estados Unidos, que passa por eleição presidencial neste ano, , gera forte busca por yield”, afirma. Neste contexto, mesmo em fase de ajustes, o Brasil já demonstra movimento de melhora dos ativos: o dólar passou de R$ 4 para R$ 3,15; a Bolsa de 38 mil pontos para 58 mil.
 

“Assumindo que as condições permaneçam bem elevadas e abundantes e o país consiga minimamente fazer os ajustes fiscais, o Brasil tem potencial de atrair enorme quantidade de capital lá de fora”, avalia.

Mas, nem todos estão tão otimistas assim. André Leite, sócio da TAG Investimentos, ainda se diz apreensivo para o curto prazo, porém ainda construtivo com o Brasil de médio prazo. “Cremos que uma realização de preço nos ativos de risco doméstico poderia ser uma boa oportunidade para os investidores que, mal assessorados no mercado, perderam esta grande valorização de preços. E, naturalmente, a carteira deve, antes de mais nada, seguir o suitability do cliente, respeitando o perfil de risco e objetivos do cliente”, afirma.